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Ah! O amor...

Ah! O amor... 

De interjeições, exclamações, interrogações e surpresas.

Palavra doce entre ofícios e sacrifícios amargos.

Compreender o amor é um exercício. Senti-lo, um aprendizado.

Nem sempre é o que se define, nem sempre se constrói e permanece em apenas uma definição. 

Discordo do poeta quando ele diz "que seja eterno enquanto dure".

Prefiro dizer: "que ele dure eternamente enquanto amor".

Esse amor, que acaba em um determinado momento, não deve ser amor.

Esse amor de eternidade intensa e passageira não é amor.

Amor de aroma abstrato, edificado no belo, amor dos poetas. 

Esse amor é "fingidor, fingindo a dor que não se sente".

É amor personificado, amor elaborado, pensado, calculado, medido em tempo, marcado por uma existência fugaz.

Amor romanceado em páginas, com prefácios e epílogos.

Amor dançado, cantado.

Amor valsa e bossa nova.

Amor de vitrine, de cartaz, de filme.

Amor de foto, de calendário.

Amor de passagem.

Amor de viagem, passeio, paisagens em tons pastéis.

Amor sublimado, emoldurado, enquadrado.

Amor de espectadores, de plateia.

Amor instagramável, facebookeano, tinderesco.

Esse amor de subterfúgios, não penso, não sinto, não finjo. Fujo. 

Nessa encenação não protagonizo.

Vivo todos os papéis, em cenas e cenários, sem holofotes, atrás das cortinas. 

Vivo o amor vivo, real, atuando verdades sem aplausos. 

Amor com histórias, de prosas e versos, vividos, ora sem versos, ora sem prosas. 

Amor de textos, romances em forma de bulas de remédios, folhetins remediados, de personagens de almanaques e gibis, de contos apenas contados. 

Vivo o amor borralheiro, na certeza encantadora de que haverá encantos. 

Amor construído com pedras, castelos de areia, bem cimentados. 

Amor passo a passo, de passos largos e lentos, em eterno compasso.

Amor que acompanha.

Amor que marcha.

Amor que mancha.

Amor que deixa marcas, que dói, desaba e se levanta.

Amor com preceitos de regras desregradas. 

Amor com limites sem limites.

Amor belo em feiura, feio em preconceitos. 

Amor que esvai, escorrega, carrega.

Amor carregado, que pesa, pesado na leveza de seu peso.

Amor que escuta, sussurra, grita, geme e canta o encanto e o desencanto.

Amor que chora, sorrindo, que ri chorando.

Amor chato, tolerante, desafinado.

Amor de tantos tons. 

Amor de nuanças, relances.

Amor colorido.

Amor dolorido.

Amor sujo, limpo e desbotado.

Amor rasgado, amarrotado, alinhado, ajustado em desajustes.

Amor tecido, retalhado, remendado, rendado entre firulas e picuinhas.

Amor tramado no sempre, no nunca, no presente. 

Amor persistente, sem correntes, decorrente, transcendente, perpétuo.

Amor duro, endurecido na delicadeza durando e resistindo ao tempo incontável

Sem tempo de começar

Sem tempo de acabar

Há! O amor...


Comentários

  1. Tão verdadeiro!
    Merece muita reflexão!
    Parabéns, Érica, por tratar com maestria um tema tão difícil de colocar em palavras!

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  2. Ah! O amor 🧡
    Ele só existirá, se antes de tudo houver o amor próprio!!!
    Perseverante e louvável seu amor à escrita. 👏👏

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  3. Ah! É o Amor!
    Palavra pequena que significa muito.
    Amor. Palavra com cores diferentes, aromas inconfundíveis e gosto singular.
    Defino-te com; carinhos perfumados, abraços com laços, gestos de coração, sorrisos froxos e presente de sempre te amar com amor.

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  4. "amor que marcha
    amor que mancha"
    😍

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  5. Muito obrigada minha poeta preferida para fazer bater meu coração com este poema tão lindo e sutil !

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