Carnavaneando
O carnaval é um tempo que me remete às melhores lembranças.
Sempre gostei desse tempo, desde o tempo em que havia tanto tempo para esse tempo.
Talvez tenha aprendido a gostar desse evento por influência do meu pai. Ele adorava o carnaval. Se dispunha sempre alegre, sendo festa, um folião disposto a permanecer nas folias que comumente vivia no dia a dia.
Não usava máscaras, nunca precisou delas. Sua cara foi sempre limpa e pintada de riso e alegria.
Trazia sempre mais de mil palhaços nos salões de nossas vidas.
A tristeza ficava por conta do Arlequim, da Colombina e da Jardineira. Mesmo chorando e caindo de tantos galhos, nunca se abateu.
Suas fantasias eram originais, vestidas do luxo do imaginário.
Pintava com tinta guache nossas faces angelicais desenhando nelas suas impressões infantis. Eram carinhas transformadas em índios, palhaços, testa e bochechas mascaradas com coraçõezinhos e delicadas florzinhas. Ficávamos a lindeza que ele desejava. Se derretia, como a pintura que escorria de nossos rostos pelo calor.
Artista de tantos semblantes.
Depois, cobertos de músicas, confetes e serpentinas, ele nos envolvia na dança desse sonho colorido. Quanto brilho, oh quanta alegria!
Também minha mãe, sempre companheira, brilhava à luz de tantas mulheres em sua verdade de Amélia, abrindo alas e acertando seu passo nessa, e entre tantas outras danças, desde o tempo em que eles se enamoraram nos bailes de luas brancas e estrelas d’alva.
As brincadeiras eram divertidas como tudo o que se propunha nessa época festiva.
Uma alegria sem sentido pra comemorar uma felicidade sentida nos coloridos das fantasias, nas decorações dos clubes, nas ruas e nos salões, lançando perfumes de graça em todas as tediosas monotonias insípidas.
Tudo era repleto dos luxos glamourosos da originalidade.
Nossas bisnagas de plástico eram um espetáculo à parte, uma fascinante aventura. Jogar água nos carros que raramente passavam na pacata rua efervescia nossa pequena cidade. Era sempre uma surpresa observar, através dos para-brisas molhados, os humores dos que os dirigiam.
As vezes, os vidros e as caras se fechavam.
Outras porém, traziam na direção, direções que nos acordavam com banhos de água que esquentavam as batalhas e não esfriavam a alegria da brincadeira.
Os corsos, com os carros abertos, eram uma felicidade, tanto para quem desfilava quanto para quem esperava passar um veículo, onde se descarregavam as bisnagas, baldes e mangueiras.
Tudo propício, Allah-la-ô! Calor lavado com um refresco desse tempo, pausa eufórica levando o silêncio ensurdecedor e ruidoso que abate a esperança e escurece os dias.
As tantas marchinhas nos animavam nos humores, nos rumores para seguir marchando nossos enredos.
Tão coloridas, todas as fantasias que fantasiei, nesse e em tantos outros momentos, mesmo quando não as vesti.
Muitas vezes só investi nelas, confeccionando sonhos para tantos, com retalhos de cetim, salpicados com lantejoulas e purpurina.
No carnaval as máscaras nos desmascaram, escondem tristezas que não revelamos, mascarados de alegrias. Nossas identidades podem ser todas, vestidas de igualdades, revestidas com desejos de dias melhores.
Ver, viver e reviver o carnaval, entre os desfiles de tantos coloridos e riquezas culturais, nos remetem a um mundo de sonhos e devaneios onde tudo é possível, universo repleto de avenidas onde tudo passa, por onde tudo vai passar.
Confetes e serpentinas ao carnaval!
minha memória é bem distinta, mas adorei ler as suas!
ResponderExcluirVoltei ao passado! Que sonho mais doce! As serpentinas, o cheiro de alegria no salão... mil e uma cores, saudades que dói, volta tempo!
ExcluirComo é bom relembrar momentos únicos de nossa infância!
ResponderExcluirTrazer a tona histórias inesquecíveis no fundo de nossa alma e poder compartilhá-las...
Lindo texto querida!!! Meus parabéns!!!!
ResponderExcluirQue coisa mais linda!
ResponderExcluirMe emocionei com essas recordações de carnavais que verdadeiramente traduziam a mais simples e pura alegria!
Belo texto e belas recordações.
ResponderExcluirQue beleza de texto. Lembranças e cores tão presente. Érica vc arrasa.
ResponderExcluirPassado tão presente...
ResponderExcluirAmei! Parabéns!
Muito gostoso ler esse seu texto Érica! Agora são lembranças.... época boa...vivi tudo isso....éramos inocentes...e felizes....
ResponderExcluirEmocionei-me ao ler este texto!
ResponderExcluirRecordei minha infância e adolescencia, participando dos corsos e bailes de Carnaval no clube Internacional de Regatas, em Santos, sempre acompanhada de meu pai, tão feliz e folião como eu. Eram dias mágicos, felizes, de pura singeleza e inocência, em os quais imperava a mais pura alegria, bem como o batuque das marchinhas e do saudoso e esquecido frevo.
Dias que não voltam mais!!!!!
Obrigada a todos os queridos e queridas!
ResponderExcluirQue bom poder despertar esses sentimentos e lembranças.
Os comentários de vocês me inspiram e são muito especiais para mim.