Dentre tantas mazelas e surpresas do cotidiano, essa é uma que faz parte de tantos momentos.
No fogão, no chão, na mesa, tantas vezes nos deparamos com isso. Desafio e aprendizado? Romance de Chico Buarque?
Sem romancear, isso acontece de forma inusitada, de um jeito que surpreende.
Encontrar a caixa de leite, guardada no armário, derramando seu conteúdo como uma cascata branca, formando um lago esbranquiçado no meio da cozinha é algo bem apropriado para uma manhã que parece não ter amanhecido.
Complemento bom para o café não tomado.
Mesa posta no chão, repleta de delícias que animam o mau humor.
O desenho dessa paisagem nos desperta dos sonhos bons que não tivemos na noite mal dormida.
Acho que nessa visão cabe a expressão bíblica "jorrar leite e mel", profetizando abundância e riqueza.
Seria então uma forma de bom agouro?
Ou simplesmente uma lambança nada doce com a chata e pobre realidade da limpeza por fazer?
Muitos panos, bacia, água, papel toalha, álcool, alguns palavrões e muitas palavras invocando a santa paciência.
Talvez, com a ajuda dessa súplica e crença, ao tirar tudo de dentro do armário banhado em leite, minha rogativa me fez pensar coisas lambuzadas com uma dose um tanto improvável de otimismo, como criar pratos novos para aproveitar o conteúdo desperdiçado:
Espaguete ao leite, macarrãozinho de sopa numa sopa de leite, sucos de frutas com leite e a incoerência de pacotes de queijo ralado vegano embebidos com leite zero lactose.
Cardápio bem eclético com tempero de delírios sobre as delícias amargas e azedas desse contexto.
E assim, depois do vai e vem com a limpeza, no sobe e desce da escada para alcançar o armário, volto ao chão e encontro a limpeza das lições que me revelam tantas manhas, manhãs e amanhãs.
Nelas aprendo que não posso deixar de esperar, nem tampouco desesperar.
Com elas aprendi que não podemos fazer nada além do tudo que precisamos fazer e nem reclamar ou se entristecer por algo de ruim que já aconteceu.
Muitos são os ditos da cultura e sabedoria populares que nos ensinam até mesmo com o propósito do consolo em tantos e diferentes momentos.
Na página desse dia essa experiência indesejada não ficou escrita em branco.
Nela posso ler e compreender no incompreensível que:
"não adianta chorar pelo leite derramado".
Reflexão muito oportuna para esses momentos!
ResponderExcluirParabéns Érica!!!
Você, como sempre, encontra flores no meio do deserto ao poetizar as adversidades cotidianas. Parabéns! ❤️
ResponderExcluirUaau adorei, Erica! Parabéns!
ResponderExcluir