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CRÔNIcafé


CRÔNIcafé

Sabe aqueles dias que você acha que será um dia daqueles?

Todo mundo conhece isso. Geralmente tudo acontece logo quando você acorda.

Mesmo arriscando colocar primeiro o pé esquerdo fora da cama, você acha que tá tudo bem mais ou menos e segue em frente.

Toda dolorida, de uma noite mal dormida, você espreguiça, calça os chinelos, vai ao banheiro fazer as coisinhas que precisa e depois pra cozinha.

Ainda sonolenta você "pensa" que vai tomar um cafezinho bem adoçadinho, buscando nesse momento aquela fezinha do bem, de todo dia, pra todo dia ser melhor. 

Aí, uma surpresa nada doce. 
Uma cena bem estranha…

A cozinha toda cheia, ou melhor, "cheíssima" de cacos de vidro, muitos cacos e caquinhos, no chão, pia, fogão, tudo. Uma "cacolândia": um parque de pura diversão, de graça e muito sem graça.

E o que seria isso?

Um terremoto que quebrou os vidros?

Coisas da pandemia? Ou um pandemônio?

Ou será que todos os copos resolveram fugir do isolamento, no armário e, na aglomeração, caíram todos no chão? 

Você pensa nesse mistério, em todas as possibilidades, as mais esdrúxulas possíveis e demora pra acordar do pesadelo acordado.

Aos poucos você fica esperta e, mesmo sem o café, descobre que a tampa de vidro do fogão não existe mais. Ela virou milhões de caquinhos fumê, até que bonitinhos. Davam pra fazer muitos anéis com eles e dizer que era alguma pedra preciosa. 

Mas fodam-se os anéis!   

Ficam mesmo os dedos, as mãos, a verdadeira e "preciosa" paciência pra limpar toda essa verdade. Uma joia da manhã.

Mesmo assim, sem café, sem a verdadeira paciência, a gente busca as razões e as explicações pra isso. Mas... não acha.

Bora deixar o gato miando, desanimado, do lado de fora da cozinha, sem entender nada, feito eu, e pegar "animada" todos os equipamentos supostamente necessários para isso: 

vassoura, vassourinha, pá, pazinha, papelão, aspirador, pano, palito de churrasco, pincel grande, pequeno, e até brocha, pra não brochar na limpeza.

Tudo isso pra quê? Só vendo pra entender.

Tinha caco escondido em tudo, até dentro do saleiro. Dava até pra pensar que era um sal daqueles do tipo grosso e chique.

E limpando tudo durante horas, depois de falar uns palavrões, os pensamentos são nossa boa companhia, melhor do que as palavras.

Surge até aquela voz de Poliana quando queremos parar de falar tantos "que merda", e não encontrarmos a razão disso.

A menina boazinha nos resgata e nos fala baixinho na mente, com a doçura do café não tomado: 

"Viu que bom você não ter escutado quando isso aconteceu?"

"E se fosse de madrugada? O dolorido do corpo seria maior de manhã."

"Viu também que bom os caquinhos serem fumês? A gente consegue enxergar melhor."

"Viu só como foi bom ter assistido tantos "Indiana Jones" pra inspirar a ideia *de usar* pincéis na limpeza?".

"Também, já pensou que não vai ter que limpar mais essa pentelha tampa de vidro que nunca serviu pra nada?"

“Viu que os copos ainda estão no armário e não teve terremoto”?

Só tem mesmo pandemia e gato que mia quando vê a porta da cozinha fechada. “Quase nada."

Nossa! Quanta coisa boa. Só mesmo essa menina boazinha pra nos trazer esse cá-fé, doce de sabedoria.

A gente chora e ri, junta os cacos quando precisa e chama a Poliana pra brindar com você, com os copos ainda inteiros, quando tudo passar.

Assim é a vida, cheia de surpresas, tornando nossos dias daqueles, naqueles dias, cheios de artimanhas, nas manhas de novas manhãs, no aprendizado do esperançar freireano de outros bons e melhores dias.


Comentários

  1. Bonito ! E tão metafórico! Os cacis da foto parecem pedras naturais .

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  2. Adorei! Me identifiquei muito, pois quebrei meu dedinho do pé - na cozinha e de bobeira - na quinta-feira... Primeiro dia de férias. Haja jogo do contente! Vamo que vamo!

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    Respostas
    1. Obrigada querida Nana! Que pena isso e que triste coincidência de acontecimentos na cozinha. Já tive essa mesma história. Espero que a "menina" também te ajude a juntar os cacos para dias melhores.

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  3. Amei!
    Lindo e verdadeiro!
    Enfrentar as surpresas da vida com leveza e poesia e muita fé!

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  4. Obrigada querida Cíntia!
    Vc e sua sensibilidade são sempre inspiração para mim!

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    1. Servir de inspiração é uma benção! A recíproca é verdadeira!
      Cíntia

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  5. Muito instigante esse poema que me leva pensar em como a tal tampa do fogão virou esses caquinhos lindos. Seria o gato que noturno fizera estripulias?

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    1. Obrigada querido amigo!
      Seu comentário poético inspira essa ideia.

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  6. Muito obrigada querida Érica! Você sabe tornar a realidade desagradavél em uma lenda maravilhosa que nos da coragem para enfrentar o desafíos do quotidiano....

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    1. Obrigada querida Sylvie!
      Que bom poder inspirar alguém tão especialmente sensível.

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