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Pérolas


Pérolas...

Quem não conhece, não sabe, não viu, nem ouviu ou viveu pérolas?

É grande o mundo dos assuntos que envolvem pérolas.

Elas por si mesmas diversificam-se. São tantas e muitas, perfeitamente disformes em formas, raras, brancas e negras, artificialmente naturais e sintéticas.
Hoje podem ser baratas, até de vidro e de plástico, revestidas por camadas de tinta perolada.

As pérolas também não se restringem apenas às joias e aos adornos, reservados para poucos, desde falsas e preciosas coroas, de reis e de misses, a pequenos brincos colocados nas miúdas orelhas de quem acaba de nascer “menina”, pra se diferenciar do “menino”.

Engraçado isso... Mas era assim.

Talvez isso fosse porque as pérolas instantaneamente nos remetem à delicadeza do feminino.
Não é por acaso que, Coco Chanel, uma das mulheres mais conhecidas em alimentar com elegância as vaidades femininas, tornou indispensável o uso das pérolas em suas criações.

Mas acho que, em tempo algum, as pérolas em suas diversas formas deixaram de ser moda, principalmente quando se quer vender essa moda, seja ela qual for.

Até no mais inusitado elas aparecem como, por exemplo, nos cosméticos e farmacológicos.
Com um “sei lá o que de pérolas” que eles contêm, magicamente transformam peles, bocas, unhas e cabelos em “quase pérolas” ou com cara de pérolas, verdadeiramente falsas, caras ou não.

Também existem remédios feitos com pérolas. Desde os mais remotos tempos, e ainda hoje, eles eram usados para a cura de diversas doenças, dentre elas, a lepra.
Acredita-se também que as ostras, mãe das pérolas, produzem efeitos afrodisíacos em quem de alguma forma as ingere. Será?

As pérolas, algumas vezes, se transformam em cores e saem das paletas dos mais diversificados e inusitados artistas para nos encantar.
São usadas por estilistas, decoradores e arquitetos, designers, publicitários e até pelos dentistas e protéticos.

Uma vez o meu dentista examinou a cor dos meus dentes com uma espécie de tabela pra poder fazer uma parte que faltava de um dente, acho que é uma “jaqueta” e disse: pérola. É a cor. Já pensou? Tenho uma jaqueta pérola na boca!

Nada como “a cor pérola” para valorizar, diferenciar e realçar o ”branco” das ideias.
Dificilmente uma coisa não se tornará menos valiosa, se for perolizada, mesmo em sua comum simplicidade.

Ah! Como parece mais bonito um sapato pérola, combinado com uma bolsa perolizada e um vestido de seda perolado.

E um carro então?!!! Já viu aqueles lindos e importados que não são daquela cor branca dos táxis de São Paulo? Esses, meus caros, são caros, são carros “pérolas”, nunca iguais, por mais que se pense.

Também os lençóis, os linhos, as lãs e linhas, as fitas, meias e calcinhas, quando se batizam de “branco pérola” saem do lugar comum, parecem mais macios, mais suaves e delicados.
É como se aquele branco, de alvura e de pureza, de noivas, ficasse mais honesto e mais discreto.

Por fim, quando vemos algo e pensamos ser apenas um branco meio diferente, um “branquinho amarelado”, diríamos, meio “sujinho”, aquele que não tem a brancura extraordinária dos sabões em pó, a gente está vendo então o “branco pérola”.

Lembro, lá na minha infância, que tinha um açúcar que se chamava “Pérola”. Ele era meio amarelado e por isso, com imaginação, até pensava que era feito de pérolas em pó. Chique isso! Mas só pra minha ingenuidade de criança, pois, isso injustamente o desqualificava.
Era sempre mais barato do que os outros açúcares. Hoje, sabemos que isso devia ser porque ele não tinha passado pelos muitos processos industriais do refinamento, que deixam o açúcar tão branco, e menos natural.

“Refinado” e “o tal” acho mesmo que era o açúcar Pérola.

Talvez, por esse motivo, esse açúcar, deixava tudo mais gostoso, principalmente o arroz doce que minha mãe fazia. Como era bom... Ficava perolado e bem doce!

Também temos outras e inúmeras pérolas.
Dentro da literatura existem frases de efeito e com um brilho particular, que proporcionam prazer ao ler. Esse efeito perdura em nossa mente e ecoa como um achado. Isso é a pérola literária.

São muitas as preciosidades no tesouro literário. Elas nos alegram e enriquecem.

Temos pérolas literárias eternizadas por sua riqueza e outras por sua simplicidade.
Mas elas nem sempre estão apenas nos livros.
Elas também nascem de nossas observações do cotidiano, de situações, pessoas e fatos por vezes muito próximos.

Tenho uma amiga que cria e tem frases próprias e outras denominações que definem e sintetizam brilhantemente situações, pessoas e várias outras coisas que não conseguimos fazer com tanta clareza. Considero suas pérolas inteligentes e inesquecíveis.

Recentemente, quando disse que estava fazendo esse blog, ela definiu, em uma pérola, que eu estaria escrevendo “romances de costumes”.

Achei isso lindo! Talvez ainda faça jus a isso e a ela.
Suas pérolas são sempre muito elegantes, mesmo quando a tendência é ser deselegante.

Por outro lado existem também as pérolas que se tornam “pérolas” pela preciosidade na simplicidade e criatividade. É um jeito novo de se virar com a nossa difícil língua portuguesa.
E ainda, quando se junta com outro idioma, como o inglês, as pérolas ficam ainda mais interessantes.

Não é todo mundo que tem ou teve oportunidades, principalmente por fatos decorrentes à pobreza, para poder se obter um mínimo de educação e conhecimento.
Isso é muito triste, aqui ou em qualquer outro lugar desse mundo.

Essa é uma pérola que não devia existir.

Mesmo assim, o povo é muito rico em sabedoria e cultura popular.
Acho que as pérolas assim, que vêm de toda gente e de nós também, têm um aspecto positivo. Elas são uma tentativa de se expressar e se comunicar que, muitas vezes, não dão muito certo.

Também acabam sendo e proporcionando alegria.

Tenho uma coleção desse tipo de pérolas na minha caixinha de joias.

Muitas delas ouço e anoto e adoto, outras esqueço, até mesmo por não querer lembrar.
 Estão presentes no meu dia a dia.

Uma delas, que guardo com carinho, é de autoria da nossa ajudante aqui em casa.
Com pouco estudo, sempre trabalhou de doméstica e trabalha conosco há anos, portanto temos uma coleção de boas, sábias e muitas pérolas compostas por ela.

Um dia, me perguntou se podia limpar a “arquibancada” da cozinha. Noutro, se podia limpar o “halls” da entrada.
É isso. Futebol e bala! Que beleza! Tudo bem limpinho.

Certa vez, ela nos presenteou com uma pérola da sua família. Numa ocasião, em férias, viajou para visitar a mãe. Lá, encontrou muitas cartas, enviadas por sua irmã, esquecidas e empilhadas num canto. Então, ela perguntou qual era a razão das cartas abandonadas sem sequer ter sido abertas e muito menos lidas, e a mãe respondeu:

“Não sei ler em gago”.

A pobre irmã, além de gaga, não conseguiu se comunicar sem dificuldades, nem por carta!
Acho que ela nunca soube nada sobre isso. Tomara.
Provavelmente essas, as cartas, não tinham nenhum assunto tão urgente. Tomara também.

Isso, por mérito, conquistou um lugar especial no meu porta-joias. Convenhamos, é um belo anel de pérola.
Ela tem também outras inúmeras “perlas“, incluindo essa “perlinha”, que é como ela costuma chamar as pérolas.
Juntando todas, acho que já teria um colar de bom tamanho.

Enfim, são tantas as coisas pra se pensar e pra se dizer sobre todas e tantas pérolas...

Pérolas são frutos, de dores, de amores, com suas cores, nos pescoços e orelhas, são joias, escritas e ditas, pra serem heranças.
Pérolas estão em histórias e parábolas, em bodas, em dedos ainda apaixonados.

Com quantas visões podemos descrevê-las. De quantas maneiras podemos bordá-las.

Muitas já foram feitas, por muitos. Talvez, mais belas, mais filosóficas, mais profundas e espirituais. Outras com mais graça e conteúdo.
Certamente muitas ainda serão feitas, de todas essas e outras maneiras.

Mas, como diz minha amiga, esse romancear de costumes, que aqui tento fazer, sobre esse ordinário que vejo tão extraordinariamente, é um grão de areia ainda, em tamanho e pretensão.
Talvez essa areia ainda entre em alguma concha e produza uma bela, boa e preciosa pérola.

Que muitas conchas estejam atentas e, que cultivadas ou invadidas, possam produzir muito nácar para cobrir a areia, com camadas e camadas de madrepérola.

É assim, partindo da areiazinha, chata e incômoda, fazendo até doer, que nascerão sempre novas e muitas pérolas.

Vivam as pérolas.

Viva!











Estas foram feitas por mim

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